Durante mais de 20 anos mantive-me fascinado por uma ideia que nasceu no momento em que vi pela primeira vez um fractal, figura geométrica formada por partes iguais ou semelhantes a si mesma. Senti necessidade de aprofundar meus conhecimentos e comprei um livro sobre o assunto, o best seller Caos, A Criação de uma Nova Ciência, do jornalista norte-americano James Gleik, e o software Fractals for Windows. Foi uma delícia aprender mais sobre a Teoria do Caos e brincar com a criação de fractais, buscando em sua profundidade a repetição de suas formas.
Passei a ver fractais em tudo – nas nuvens, dunas, brócolis, samambaias, animais, cardumes, rebanhos, multidões. E tudo me fazia pensar na complexidade e no desenvolvimento fractal.
A Teoria do Caos apresenta soluções matemáticas para fenômenos que ocorrem em sistemas muito complexos que, devido à enorme multiplicidade de variáveis, podem apresentar reações completamente imprevisíveis. Nesses sistemas não se aplicam as relações de causa e efeito. Para o mesmo estímulo, podemos ter diferentes respostas. Um desses sistemas, grande motivador dos estudos, é a meteorologia. São tantas as variáveis que atuam sobre ela que é praticamente impossível, apesar da tecnologia atual, prever com exatidão se choverá ou se fará sol dentro de três dias.
Os sistemas complexos apresentam fenômenos caóticos, nos quais é possível observar uma surpreendente harmonia. É a ordem no caos. É como se a ação das diversas variáveis fizesse com que todo o sistema assumisse um comportamento peculiar, mesmo com a aparente confusão identificável em suas partes, uma espécie de atração por algum imã oculto ou um impulso para percorrer uma órbita imaginária. Um pêndulo amortecido tende para o ponto de parada. A lua se mantém girando ao redor da Terra, apesar de sofrer permanentemente a ação de inúmeras variáveis como as forças gravitacionais do sol, dos planetas, da própria Terra ou até mesmo em função dessas forças.
Como engenheiro, desde cedo me dediquei a gerir, primeiramente, partes de empresas e, depois, organizações inteiras. Nesse percurso, vislumbrar suas características complexas foi rápido. Assim como via fractais por toda parte, passei a ver estruturas semelhantes dentro das empresas. Percebi uma característica claramente fractal na interface empresa e departamentos, setores e postos de trabalho. Ao mesmo tempo, vi com clareza a grande conjunção de variáveis proveniente das pessoas ligadas à organização, o que deixava o ambiente muitas vezes caótico, nos detalhes e no todo.
Ações dispersas geravam lucro, resultados estáveis ou prejuízo. Era a ordem no caos. A ação dessas inúmeras variáveis podia fazer com que uma empresa percorresse uma órbita ou seguisse um atrator, enquanto outra, com os mesmos recursos, condições financeiras equivalentes e equipe igualmente habilitada, seguia outro. Com a alteração de algumas variáveis pontuais, a mesma empresa podia oscilar entre o lucro e o prejuízo.
Como as variáveis de um sistema empresarial provêm essencialmente das pessoas ou de recursos controlados por elas, o direcionamento me pareceu decorrer, em quase sua totalidade, de ações humanas, o que simplificou o raciocínio. A empresa percorria uma órbita decorrente da conjunção dessas ações, portanto essa órbita poderia ser propositadamente modificada se as pessoas fossem levadas a agir em sentido favorável aos interesses da organização. Era necessário fazer com que todas seguissem o mesmo atrator, levando a empresa a percorrer uma órbita desejada. Ao pensar na necessidade intrínseca das pessoas de se reunir, formar grupos e adotar ideias comuns, fui desenhando o que hoje chamo de Ideias Atratoras. Ao atrair as pessoas, todo o sistema seria atraído.(Continua…)
Este texto é um trecho do livro
“Quando a empresa se torna azul – O poder das grandes ideias”,
de Fabio Freitas Jacques.