Apesar de que, no Brasil, o programa já ter saído do ar há alguns meses, nos Estados Unidos a série “Undercover Boss” (por aqui, “Chefe Secreto”) já está na sétima temporada. Como ela trata, básica e quase totalmente de gestão empresarial, peço licença para tecer meus comentários.
Para quem não conhece: A cada episódio o “chefe”, geralmente um diretor da empresa, se disfarça de operário e vai trabalhar no meio da produção de sua própria organização como se fosse mais um colega dos demais funcionários para verificar as condições de trabalho e conhecer os seus pontos de vista a respeito da empresa e de si próprios.
De saída, o que me deixa incrédulo é a disponibilidade destes chefes em reconhecer publicamente que não tem o menor conhecimento do que acontece dentro de suas organizações.
Rapidamente é possível constatar que o diálogo nas empresas escolhidas é praticamente nulo. Os operadores não falam com suas chefias e estas chefias, por sua vez, não levam os problemas constatados aos níveis superiores para que sejam solucionados.
Este distanciamento entre os níveis hierárquicos é o embrião das ilhas e dos feudos que permeiam as organizações. Com a falta de um diálogo mais abrangente, as pessoas, em função de sua tendência a orbitar em torno de ideias, não compartilham uma única ideia e sim inúmeras ideias diferentes muitas vezes conflitantes. É no isolamento dos grupos e até mesmo em sua mutua animosidade, que se consome grande parte da energia que poderia ser aplicada na melhoria da produtividade e dos resultados da empresa.
Não seria “talvez” muito mais produtivo o chefe ir como chefe ao local de trabalho, dialogar com as chefias do chão de fábrica e até mesmo com os operários para saber de suas dificuldades operacionais? Parece-me que esta atitude abriria os canais de diálogo entre os níveis hierárquicos arejando a empresa e pavimentando os caminhos da comunicação e da produtividade.
Outra: Já pensaram em como ficará o clima dentro de uma empresa quando as pessoas ficarem sabendo que foram espionadas? Não ficarão com um pé atrás desconfiando de qualquer novo colega visualizando-o como um cavalo de Troia dentro de seu ambiente de trabalho? Não será um novo espião?
O programa pode parecer interessante e, algumas vezes, até emocionante, mas com toda a certeza é completamente improdutivo. As chefias se sentirão traídas e desprestigiadas e passarão a agir impelidas pelo medo. “E se um operador falar mal de mim”?
Muito mais produtivo em todos os sentidos, no meu entender, seria mostrar uma empresa em que todos os caminhos sejam abertos, na qual as pessoas possam se manifestar sem qualquer constrangimento. Uma empresa onde a comunicação em todos os níveis seja possível e onde ninguém tenha receio de ser punido por externar suas opiniões a respeito do seu trabalho, de suas chefias e da própria empresa.
Mas, para que isto aconteça, é preciso que a empresa tenha uma ideia voltada para a produtividade, para a liberdade, assim como para o crescimento das pessoas e o lucro da organização. É preciso criar “Ideias Atratoras” que unifiquem os objetivos de todos os agentes da organização. Com “Ideias Atratoras” a espionagem se torna anacrônica e completamente desnecessária além de altamente constrangedora e improdutiva.