Estava eu conversando com o gerente de RH de uma grande organização onde prestava meus serviços quando o mesmo me pediu licença porque teria que participar de uma importante reunião com a empresa que prestava serviço de refeições coletivas.
Pedi para participar da reunião como assistente e juntos fomos ao anfiteatro da empresa para o encontro.
No palco, uns vinte funcionários, todos sindicalistas, massas brutas, que antes da reunião já manifestavam em voz alta sua insatisfação com a qualidade do cardápio das refeições servidas.
O gerente, após pedir silêncio, apresentou os representantes da fornecedora, que eram um diretor e uma nutricionista. O objetivo era ouvir as reclamações do pessoal e apresentar uma proposta de solução.
No primeiro minuto, quando o diretor da empresa começou a se apresentar, um sindicalista revoltado simplesmente disse: “Oh, gente fina, não me interessa quem tu és na tua empresa, O que eu quero saber é o que vão fazer com esta droga de comida”.
Ato contínuo, todos os funcionários sindicalistas começaram a falar simultaneamente em voz alta, o que prenunciou um desfecho traumático para o evento.
Como o gerente não conseguia acalmar o burburinho, eu que estava sentado numa cadeira na terceira fila do anfiteatro, achei que devia interferir. E, em voz alta, pedi para falar. Como minha manifestação foi inesperada, todos ficaram em silêncio.
Desci ao tablado e disse sem rodeios: “Quem pode dizer se a comida é boa ou não, são os usuários do serviço, e, portanto, eles é que devem dizer como o cardápio, que é o maior problema, deve ser feito”. Ato contínuo, pedi aos membros do grupo que dessem suas sugestões para eu anotar.
Um queria feijoada, outro dobradinha, outro ainda, carne de panela. Não conseguiram mais se entender porque cada um tinha um gosto que não era compartilhado pelos outros e, após alguns momentos tumultuosos, resolveram cair na real e aceitar que o cardápio não era o problema e que a melhor opção era a apresentada pela empresa fornecedora das refeições.
Na verdade, sua revolta nada tinha a ver com o cardápio, e sim com o seu antagonismo com a empresa na qual trabalhavam. O cardápio era apenas uma desculpa. Por ter descoberto esta problemática subjacente é que interferi no processo, que com certeza acabaria em conflito, principalmente levando-se em conta a proximidade da data base da categoria.
Todos baixaram a guarda e acabaram rindo da situação. Alguns até convidaram o gerente para fazerem um churrasco juntos algum dia, e a reunião acabou com todos felizes e sem que a empresa fornecedora de refeições dissesse mais uma palavra sequer.
O gerente não havia captado a mensagem sinalizada pelo pessoal, manifestada através de uma reclamação secundária que era o cardápio. O problema era claramente um conflituoso relacionamento com sua própria empresa.
Depois, novamente na sala do gerente, comentando sobre a reunião lhe aconselhei: “Aprende a conhecer o cego dormindo e o rengo sentado”, como se diz no interior do Rio Grande do Sul. Nem sempre aquilo que se vê é o que precisa ser visto.
O correto posicionamento em relação ao problema é que mostrará o que deve ser visto. A terra só é azul para quem se afasta dela.