Na mesa de cirurgia está o paciente. Ele é o objeto de todo o trabalho que deverá ser realizado pelo artífice principal: o cirurgião.
Bem antes sua entrada em cena, uma equipe de instrumentadores prepara detalhadamente o passo a passo da operação, posicionando estrategicamente todos os instrumentos necessários para que o evento seja coroado de êxito. Tudo pronto, entra em cena um grande auxiliar que sozinho ou com sua equipe, prepara o paciente para a cirurgia. É o anestesista.
Eis chegado o momento em que assume a cena o ator principal: o cirurgião. Examinadas as marcações feitas pela equipe de enfermagem, verificadas as condições preliminares do paciente, ele estende a mão e diz: bisturi. E o espetáculo inicia.
O core business é a cirurgia e o artífice é o cirurgião. Todo o mais é simplesmente apoio para que a operação seja coroada de sucesso.
Imaginemos agora que não seja encontrado o bisturi, a pinça, a gaze ou qualquer outro instrumento ou material necessário à cirurgia? Tudo pode se transformar em uma catástrofe. E se o cirurgião tiver que abandonar a sala de cirurgia para ir procurar as agulhas e linhas? O paciente poderá não resistir e, até mesmo, morrer.
A cirurgia numa empresa é o seu core business. Se ela fabrica e vende calçados, tudo deve girar em seu entorno. O sapato é o paciente e o cirurgião é a equipe que o produz. Todos e tudo o mais são instrumentos e instrumentadores necessários para que a operação de fabricação de calçados seja exitosa.
Em muitas empresas, incrivelmente, a importância maior não é dada aos cirurgiões e sim aos instrumentadores. Setores auxiliares como engenharia, contabilidade, RH ou financeiro assumem destaque muito mais relevante do que a produção.
Se a produção precisa de alguma coisa tem que ir até estas áreas e pedir auxílio, muitas vezes visto como indesejável e até como estorvo de seu trabalho. Aquele setor que gera todos os ganhos da empresa fica ofuscado por setores auxiliares vistos como muito mais importantes.
Não são os setores auxiliares que geram a riqueza da empresa. É o produtivo. Quem paga as contas não é o departamento financeiro e sim o produto, neste caso, o sapato.
Toda empresa deveria ter exposto em um lugar de destaque de grande circulação de pessoas, um exemplar de seu produto. Um sapato em uma redoma de vidro.
E cada membro da empresa, independentemente de cargo ou setor, deveria todo dia fazer uma reverência a este sapato e agradecer a ele por manter seus empregos, seus salários e seu lucro.
E cada pessoa deveria olhar igualmente para aqueles que fazem com que este sapato exista e agradecer por sua habilidade e dedicação em fazer um produto que lhes dê o lucro e os empregos.
Esta é a verdade, mas, infelizmente, nem sempre a realidade.