O que as empresas querem das pessoas

Este texto é continuação de O que as pessoas querem das empresas publicado em fevereiro

Prosseguindo na análise desenvolvida no post anterior que tratou do tema “O que as pessoas procuram numa empresa”, creio ser produtivo fazer algumas considerações sobre os motivos que levam uma empresa a buscar proporcionar o máximo de satisfação aos seus funcionários.

Partindo de uma base racional, nenhuma empresa contrataria uma pessoa se não precisasse de alguém para desempenhar alguma atividade que se encontre a descoberto. Como a racionalidade nem sempre é o padrão, desnecessárias contratações são bastante frequentes, principalmente em épocas de bonança ou vacas gordas.

De qualquer forma, considerando que a contratação faça sentido, a empresa sempre espera alcançar o melhor retorno do investimento feito no funcionário, ou seja, espera que o mesmo seja muito produtivo.

Nem sempre, ou quase nunca, ao contratar o funcionário a empresa explicita o que realmente espera dele, ou seja, que ele contribua para com a melhoria dos resultados, ou, ainda em outras palavras, que faça a empresa ganhar mais dinheiro. É por este motivo, porém, que a empresa contrata alguém ou adquire um novo equipamento. Pelo menos em tese.

Como as empresas não se debruçam sobre as análises relativas a “o que realmente as pessoas querem da empresa”, passam a investir numa série de soluções paralelas muitas vezes paliativas e meramente compensatórias, tentando conseguir, indiretamente, a adesão e o comprometimento dos funcionários.

Muitas empresas investem em academias internas, em salas de recreação e lazer, até mesmo em salas de repouso, com ar condicionado, frigobar, sofás confortáveis e até mesmo redes nas quais o funcionário pode deitar e até mesmo dormir. Investem às vezes pesadamente, em programas motivacionais, em contratação de profissionais de áreas ligadas à psicologia e aconselhamento e coaching ou em cursos de auto-ajuda e treinamentos lúdicos.

A experiência tem me ensinado que nenhum destes benefícios subsiste frente a uma alternativa de aumento salarial e de reais perspectivas de futuro profissional. É simples constatar isto. Basta fazer um questionário anônimo, para evitar constrangimentos, propondo um significativo aumento salarial em troca dos benefícios especiais.

Se a proposta de melhoria salarial for atrativa, a substituição será praticamente aprovada por todos.

Mas será que todo mundo é mercenário?

Não é esta a questão. Além de embolsar mais dinheiro, o funcionário se sente muito mais livre para decidir sobre sua vida. Uma academia na empresa é uma coisa muito boa, porém, com mais dinheiro, o funcionário pode escolher outra academia ou substituí-la com uma corrida, uma caminhada ou um jogo de futebol. Ou até mesmo por nada, o que também pode ser uma boa alternativa. Ler um bom livro, proporcionar um brinquedo melhor para seus filhos ou sair para jantar em um restaurante. Cada pessoa tem um gosto particular. Que direito tenho eu de decidir que faça determinado curso, pratique na academia ou repouse numa rede.

Não vi no questionário que discuti no post anterior qualquer reivindicação a respeito deste tipo de benefícios. Só consegui ver o desejo de ganhar mais no curto e mais acentuadamente no médio prazo, transparência para saber onde se encontra na organização e liberdade para decidir sobre seu destino.

Enganam-se as empresas esperando que, sentindo-se melhor acolhido o funcionário se torne mais produtivo. Ele só será mais produtivo se os mecanismos de motivação visarem objetivamente à produtividade, a partir do momento da admissão com reforço permanente.

Não se pode esperar que a motivação seja transferível. Motivar-se por um bom ambiente de trabalho não significa motivar-se em produzir mais e melhor.

E considerando que, as empresas são criadas para transformar dinheiro em mais dinheiro sem o que não se desenvolvem e podem até mesmo morrer por falta de alimento que no caso da empresa sempre é o dinheiro, e considerando também que as pessoas procuram um emprego para ganhar dinheiro que resolva sua situação financeira imediata ou lhes proporcione melhor qualidade de vida, podemos concluir sem chance de errar que os objetivos das empresas e das pessoas são exatamente os mesmos.

Qualquer pessoa que venda seu trabalho age exatamente como uma empresa que vende seu produto. Esta é a realidade sobre a qual a tergiversação é uma constante. E esta deturpação conceitual é a amarra que mantém nossas empresas estagnadas e altamente improdutivas.

O que as empresas querem das pessoas

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