Uma vez, durante uma palestra, me perguntaram o que eu pensava do Lean System. Respondi:
“Para mim é como a penicilina. Afinal, para certos casos a penicilina é um medicamento extremamente poderoso, mas para uma pessoa que esteja sentindo cãibras, possivelmente comer uma banana seja uma opção mais eficaz”.
As empresas sofrem das mais variadas moléstias e, portanto, alguns modelos oferecidos pelo mercado de consultoria, mesmo apregoados como remédios universais, muitas vezes se mostram completamente ineficazes, E como não são gratuitos, acabam resultando, na melhor das hipóteses, em aumento dos custos, quando não se tornam ampliadores do problema.
Durante a minha carreira, por diversas vezes implementei algumas destas ferramentas tradicionais da administração, como o Kanban, a engenharia do valor ou controle estatístico de processos. Com o Kanban, inclusive, consegui trabalhar com estoques intermediário e final praticamente zerados. Já a engenharia do valor e o controle estatístico de processos me proporcionaram ganhos excepcionais, mesmo porque se tratam de excelentes ferramentas para o controle e monitoramento de variáveis.
Contudo, também conheci uma empresa calçadista que, num determinado momento, buscava desesperada e inutilmente fazer funcionar o controle estatístico de processos que lhe fora vendido como solução para seus problemas. Verdadeira luta inglória pois, simplesmente, o seu problema não era este.
Todo remédio é bom dependendo da doença. Seja no corpo humano, seja nas empresas, o mais importante é identificar exatamente qual a origem dos problemas e, a partir deste conhecimento, escolher e aplicar o medicamento correto.
De um modo geral pode-se identificar a causa primeira da improdutividade. Ela reside na carência de foco comum entre as entidades empresa e pessoas. É da harmonização do relacionamento entre estas duas entidades formadoras da empresa que qualquer diagnóstico deve partir.
O raciocínio básico diz que, enquanto a empresa precisa ganhar dinheiro para sobreviver e se desenvolver, as pessoas igualmente precisam de dinheiro para também sobreviverem e satisfazerem suas necessidades. Todo o resto vem depois.
Aglutinar as pessoas em torno de um objetivo comum que desemboque na realização do propósito da empresa é a chave da produtividade e da rentabilidade. E, partindo mais uma vez do pressuposto de que pessoas sempre são atraídas por ideias, voltamos à solução que é a criação de uma Ideia Atratora.
Ao contrário do que possa parecer, contudo, esta Ideia Atratora não é uma metodologia pronta para ser aplicada em qualquer caso, mas o princípio básico de um modelo de gestão que leva em conta as características de cada empresa. O conceito de Ideia Atratora corresponde, nesta analogia, ao conceito de remédio. Contudo, é praticamente impossível que uma mesma ideia seja aplicada em mais de uma empresa.
E é a partir do momento em que todas as pessoas dão o melhor de si pelos objetivos da empresa, aglutinadas pela Ideia Atratora, que outros problemas poderão entrar em evidência e para estes sim, pode ser necessário lançar mão do arsenal de ferramentas disponíveis no mercado, como o Lean System.
Começar pela escolha do remédio sem identificar precisamente a moléstia nada mais é que um atestado de insanidade.