É interessante a quantidade de pessoas que sempre conseguem encontrar um problema para cada solução. Alguns parecem que já nasceram refratários. Tudo é difícil. Quase tudo impossível.
Mais interessante ainda é que as empresas estão cheias deste tipo de pessoa e admitem sua relapsia, pois as mantém em seus quadros. Os gestores passam por grandes dificuldades em conseguir com que elas desempenhem suas obrigações, mas tomam poucas ações no sentido de remodelar ou corrigir este tipo de comportamento.
Na minha longa peregrinação pelos ambientes empresariais me deparei inúmeras vezes com este tipo característico e posso dizer que muitas vezes conseguir mudar seu comportamento. Sempre que alguém me disse que tal coisa não poderia ser feita, antes mesmo de ouvir seu arrazoado contrário à realização da tarefa eu sempre fiz uma pergunta:
Você não sabe fazer ou não quer fazer?
Sempre me coloquei à disposição para ajudar caso a resposta fosse: não sei fazer. Mas esta foi a resposta em pouquíssimas ocasiões. Praticamente em nenhuma.
Na maior parte das vezes não obtive qualquer resposta verbal, e sim, comportamental. As pessoas têm vergonha de reconhecer sua incapacidade, e não têm coragem de dizer que não querem fazer. Isto seria suicídio curricular.
Algumas vezes fui obrigado a demitir, mas na maior parte das vezes, os resultados foram recompensadores. Quando se estimula os brios de uma pessoa, as respostas podem ser extremamente positivas.
Não tomar nenhuma atitude quando a resistência do funcionário se torna explicita, serve de péssimo exemplo para toda a equipe. É a demonstração de fraqueza gerencial, perdendo o gestor o restante de sua, provavelmente já debilitada, liderança.
Me lembro do trabalho que fiz em uma empresa onde o Felix trabalhava como chefe de manutenção. Somente ele conhecia os circuitos hidráulicos e elétricos da empresa, o que o tornava uma pessoa indispensável e, por isso, ninguém mexia com ele. Havia, no entanto, um segundo homem no setor de manutenção que praticamente se equiparava a ele em conhecimento e, pasmem, ambos trabalhavam no mesmo turno, durante o dia.
Acontece que a empresa precisou, por motivos de segurança, transferir um dos dois para o turno da noite. Foi feita uma reunião com todo o staff da área industrial, incluindo o diretor da área. Quando foi apresentada a proposta de transferência de um deles para o turno da noite, o Felix se levantou, gritou que não admitia a troca de turno e, ato contínuo, atirou a agenda no chão em frente ao diretor e se retirou da sala.
Ambiente constrangedor. O que fazer? Como mexer com o “todo poderoso” Felix, o único que conhecia os circuitos da empresa?
Resolvi ajudar na solução e fiz ao diretor a seguinte pergunta: Se amanhã, ao vir trabalhar, o Felix tivesse um acidente ou simplesmente decidisse sair da empresa, o que aconteceria? A empresa colocaria no jornal a mensagem: “Comunicamos a nossos seus clientes e amigos que estamos encerrando nossas operações porque perdemos o Felix”?
Todos acharam ridícula a hipótese de fechar a empresa devido desaparecimento do maroto gatuno, o que nos levou a concluir que ele não era tão importante quanto todos, inclusive ele próprio, achavam. E assim, no dia seguinte a empresa o demitiu e não colocou nenhum anúncio no jornal nem fechou as portas. Aliás, a empresa continua firme e pujante até hoje.
As empresas estão cheias de Felix. Se aceitarem se tornar reféns deste tipo de mau funcionário, que arquem com as consequências. Mas meu conselho é e sempre será um só: façam com que eles repensem suas atitudes e que não esqueçam que a empresa está pagando pelo seu serviço. Eles não estão fazendo nenhum favor. Se conseguirem mudar o comportamento, ótimo. Se não, nada mais resta senão agradecer a colaboração e liberá-lo para procurar novos desafios em outro lugar.
De preferência, bem distante.