
Quando se fala em gestão empresarial, um dos aspectos elencado como da maior importância é a liderança.
As empresas têm como verdade verdadeira o conceito de que a produtividade somente será conquistada se as pessoas estiverem motivadas e que, para que esta motivação seja suscitada, é indispensável a existência e a atuação de bons líderes.
Este conceito pode, à primeira vista, parecer indubitavelmente lógico, levando as empresas a não perceberem que no seu âmago se oculta uma grande falácia. E não somente uma grande falácia, como até mesmo um elemento de grande potencial destrutivo da própria organização.
Um pouco de história talvez consiga deixar mais claro o que pretendo dizer acima.
A Igreja Católica, que por séculos foi o centro da cultura mundial, gerou no seu seio inúmeros grandes líderes que interpretaram seus dogmas e ensinamentos e os transmitiram para toda a cristandade.
A lista destes grandes líderes espirituais conta com inteligências extraordinárias como a de Paulo de Tarso (são Paulo), dos primeiros apóstolos de Cristo ou dos 36 doutores da Igreja entre os quais Agostinho de Hipona (santo Agostinho), Tomás de Aquino, Gregório Magno, Leão Magno, Tereza D´Ávila, Catarina de Sena para citar apenas alguns poucos.
Todos estes grandes líderes seguiram a linha mestra dos ensinamentos da Igreja e deram grande contribuição para a consolidação e interpretação da teologia católica. Eles ajudaram a cristandade a se conglomerar em torno de uma só crença e uma só fé.
Ao mesmo tempo, a Igreja Católica igualmente gerou uma plêiade de grandes inteligências, com grande poder de liderança, que dando sua própria interpretação à teologia e à doutrina, mesmo com a mais pura das intenções, promoveram fissuras na unidade eclesiástica provocando cismas e arrebanhando grande quantidade de fiéis que abandonaram a Mãe Igreja e seguiram seus novos líderes.
Se a Igreja Católica não se desfez em pedaços, certamente sofreu perdas irreparáveis.
Em 1054 ocorreu o grande cisma do Oriente com a mútua excomunhão de dois grandes líderes, o patriarca Miguel Cerulário líder do Oriente excomungando o papa Leão IX, líder do Ocidente e vice-versa. A separação entre os católicos do oriente e do ocidente, ocorreu após mais de meio milênio de desavenças doutrinárias e teológicas, e até hoje não houve reconciliação.
Em 1517 outro grande líder, Martinho Lutero discordando de aspectos doutrinários como a venda das indulgências, publicou suas 95 teses contrárias à doutrina católica provocando mais um rompimento através da Reforma Protestante. Sua liderança resultou na Igreja Luterana.
Em 1534 outro líder, Henrique VIII também discordou do Papa e criou sua própria igreja, a Anglicana, a qual foi, por sua vez, gerando grande parte das atuais igrejas evangélicas, cada uma separada pela ação de algum líder. Só no Brasil existem umas 50 diferentes igrejas protestantes, cada uma criada por um líder que decidiu seguir suas próprias ideias.
Acredito que, se a Igreja Católica tivesse gerado menos líderes e mais defensores da doutrina, teria se mantido muito mais sólida e unificada.
E aproveito para fazer uma referência ao nosso país.
Por que o Brasil, com todo seu imenso potencial para se tornar uma das maiores nações do mundo, continua cada vez mais empacado sem qualquer perspectiva de encontrar um caminho para sair do labirinto em que se encontra? Simplesmente porque cada líder puxa o cabo de guerra para o seu lado e para os seus “interésses” não havendo um projeto de país que unifique todos em seu entorno.
Até hoje nenhum governante conseguiu criar uma Ideia Atratora que aglutine todas as forças em prol do bem comum da nação.
Vejo que grande preocupação das empresas é preparar líderes que, como seus congêneres religiosos, liderarão segundo suas próprias ideias provocando, fatalmente, conflitos e fissuras na estrutura empresarial. Como agravante, as pessoas permanecerão na empresa e o ambiente fatalmente irá se deteriorando e a improdutividade crescendo.
A grande preocupação das empresas deveria ser a criação de uma doutrina, uma Ideia Força, aglutinadora, uma Ideia Atratora que unificasse todas as pessoas em torno de um só propósito. As chefias deveriam ser preparadas para transmitir e repetir sistematicamente esta Ideia junto aos seus comandados.
Infelizmente, um século de pregação utópica sobre liderança, tem resultado em desmotivação endêmica a improdutividade renitente.