Para a análise desta semana, darei dois exemplos reais.
Exemplo 1:
Certa vez eu estava discutindo tempos operacionais com o gerente de métodos e processos na fábrica de juntas homocinéticas da Fiat na comuna italiana de Villar Perosa, em Turim. Num certo momento entrou na sala um cidadão fazendo uma reclamação.
O gerente me perguntou em tom de brincadeira: “Vocês tem estes “merdas” no Brasil?”
“Não sei”, respondi. “Não sei quem é o cara”.
Ele me explicou que o funcionário era um representante do sindicato que estava reclamando em nome de um operador da montagem de juntas homocinéticas o qual alegava que o cálculo dos tempos operacionais estava errado e que as quantidades exigidas não podiam ser fabricadas.
Aproveitei a oportunidade e fomos juntos até às instalações de montagem de juntas para falar diretamente com o operador.
Após as discussões pertinentes, ficou acordado que seria feita nova cronometragem com a presença do sindicalista e do operador.
O que vai acontecer depois da nova cronometragem, perguntei?
“Será definida a nova quantidade a ser produzida que pode continuar a mesma, ficar menor ou até mesmo maior. A partir dali, a empresa não poderia exigir maior quantidade, e, por outro lado, o operador não poderia produzir menos. O sindicato não permitiria nem uma coisa, nem outra”.
Resumindo: o sindicato iria brigar pela justiça, tanto a favor do empregado como da empresa. Bem diferente do que acontece no Brasil.
Exemplo 2:
Em outra oportunidade, estando em Offenbach/Main na Alemanha, numa visita de rotina à empresa Löhr und Bromkamp – Löbro, o gerente de qualidade quis me mostrar um novo sistema de medição.
Para exemplificar, pegou uma peça ao acaso e colocou-a no dispositivo de medição. Para sua surpresa, contudo, o resultado foi negativo. Nos dirigimos então à máquina onde a peça havia sido usinada e ele disse para o operador que a peça estava defeituosa.
O rosto do operador, um alemão, ficou completamente vermelho. Furioso ele disse aos gritos:
“Eu não faço peças erradas!!!”
Ato contínuo, arrancou a peça das mãos do gerente e partiu em “passo de ganso” em direção ao dispositivo de medição. Chegando lá, pegou um pano limpo, passou em cada parte de contato entre a peça e o dispositivo e refez a medição.
A medida da peça estava exata. Furioso e ofendido, largou a peça em cima da mesa e, sem qualquer palavra, voltou para sua máquina.
A diferença cultural entre nós e a Alemanha é brutal. Lá o operador tem suas responsabilidades cobradas tanto pela empresa como pelo sindicato. O relacionamento empresa-empregado e meramente negocial. Acordos têm que ser igualmente honrados por ambas as partes.
No Brasil, infelizmente, a cultura é de protecionismo. O empregado sempre é considerado vítima de seu empregador tendo muito mais direitos que deveres. Não é de se admirar a enorme diferença entre nossos níveis de produtividade e os alemães.
Somente evoluindo nos contratos de trabalho, estipulando direitos e deveres de parte a parte é que poderemos pensar em nos aproximarmos pelo menos um pouco das nações mais produtivas do mundo.