Apesar de não ser o foco deste espaço, peço licença para, pela força dos acontecimentos, falar de política.
Após diversas derrotas nas urnas, para a campanha presidencial de 2002, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva resolveu adotar um novo discurso, o chamado “Lulinha paz e amor”.
Até aquele momento, as ideias de Lula não haviam conquistado um número suficiente de eleitores que se sentissem seguros para delegar-lhe o poder máximo do país. Pois mudou de ideia e se tornou presidente da República.
O ambiente mundial extremamente favorável, aliado às arrojadas políticas de inclusão social, levaram-no a, oito anos depois, deixar o Palácio do Planalto com um impressionante índice de aprovação de 80%, e com popularidade na casa 87%. Números consagradores, sem qualquer dúvida.
Alicerçados nesta espantosa aceitação popular, Lula resolveu colocar em seu lugar no governo, alguém que aceitasse governar tutelado por ele, a então ministra da Casa Civil e ex-ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff.
Dilma herdou a enorme popularidade de Lula porém, pouco a pouco, almejou vida própria e foi se descolando de seu mentor.
Acontece que, ao mesmo tempo, o mundo entrou em crise e as maravilhas brasileiras, dependentes em grande parte da economia internacional, começaram a ficar embaçadas. Mas a popularidade se manteve em alta até o início do último ano do primeiro mandato, ainda que o discurso já não mais correspondesse à realidade da situação nacional, cuja economia começava a fazer água.
Nesta altura dos acontecimentos, o partido do governo já ostentava uma imagem maculada pelas denúncias de corrupção que resultaram em prisão de muitos de seus líderes. Desde o escândalo do mensalão as denúncias de desvios de dinheiro público pipocaram diuturnamente nos noticiários dos principais veículos de comunicação tanto do país como do exterior.
Em 2014 a economia do país caminhou para um lado e o discurso para outro, diametralmente oposto. A situação se deteriorou de tal forma que o governo, cujo objetivo maior era se manter no poder pelo que, afirmaram, fariam “o diabo”, passou a esconder os rombos das contas públicas e a acusar seus adversários de pretender fazer exatamente aquilo que sabiam que teriam que fazer caso continuassem no poder.
O cenário pintado com cores imaginárias foi de tal forma propagado, que o povo, com medo de perder os benefícios já adquiridos durante os três governos do PT e a despeito de todos os avisos feitos por candidatos dos mais variados partidos, optou por seguir a ideia defendida pela candidata do governo e acabou reelegendo-a.
Mas Abraham Lincoln já preconizara que é impossível enganar a todos o tempo todo, e a podridão da economia e das mentiras vieram à tona já no primeiro momento do segundo mandato. O que foi revelado levou grande parte da população a desacreditar as ideias propaladas pelo governo, a sentir-se traído e a rejeitá-lo de forma equivalente à aprovação dada no primeiro mandato.
Inflação galopante, paralisação de investimentos, desemprego na casa dos dois dígitos, cortes nos programas sociais e a operação Lava Jato com grande enxurrada de investigações, delações, condenações e prisões, levaram o povo às ruas para gritar contra as ideias, agora já bastante desacreditadas do governo.
E quanto mais o governo tentava uma estratégia de defesa de suas obras e suas ideias, maior se tornava a rejeição. O movimento assumiu uma dimensão tão significativa que levou o Congresso Nacional, eivado igualmente de investigados e denunciados, a decretar o afastamento, ainda provisório, da presidente.
Não foi a crise econômica, não foi a Lava Jato, não foi o corte dos programas sociais que levaram ao afastamento da presidente. Já passamos por crises econômicas, denúncias de corrupção e redução de direitos sociais sem que o presidente tenha sido deposto.
O que afastou a presidente foi a mentira. Quando a mentira ficou evidente e seu escamoteamento não foi mais possível, a confiança na ideia se quebrou e o povo saiu às ruas exigindo o afastamento de presidente e do seu partido.
Neste exato momento estamos esperando que, as propostas do novo governo se tornem uma nova ideia a ser seguida. O movimento foi apenas de rejeição à ideia vigente e não de aclamação de uma nova.
Esta ainda tem que se consolidar, e precisa ser forte o suficiente para reaglutinar toda a sociedade no seu entorno. Tem que ser uma Ideia Extremamente Atratora caso contrário corremos o risco de entrar em convulsão social.