“Fiddler”, ou violinista, é o nome de um tipo especial de caranguejo que tem uma garra muito grande e outra pequena. Como ele fica o tempo todo movendo para frente e para trás a garra grande, lembra um violinista tocando seu instrumento.
A figura do fiddler é muito apropriada para descrever grande parte dos gerentes, chefes e até diretores de nossas empresas. Uma garra muito grande e outra muito pequena. A garra grande é a parte da delegação referente à responsabilidade. A pequena, a da autoridade.
As empresas, em sua maioria, delegam a responsabilidade, mas restringem a autoridade. O gerente deve produzir resultados e manter seu pessoal motivado para o trabalho, não tendo, porém, a menor autonomia para tomar decisões que façam com que a motivação de seu pessoal seja mantida ou incentivada.
Quantos gerentes têm autonomia para atender ao pedido das pessoas que com eles trabalham no turno da noite, que pedem uma garrafa térmica de café para manter o sono afastado? Quantos podem dizer no momento da solicitação que, a partir de amanhã o café estará disponível? Normalmente este tipo de pedido é rejeitado imediatamente, ou, na melhor das hipóteses, o gerente dirá que vai falar com seu superior para ver se o mesmo lhe permitirá tomar uma atitude de tal magnitude.
As chefias intermediárias têm muitas obrigações e quase nenhuma autonomia. E, para piorar sua situação, quase sempre são uma espécie de sandwich kid embretado entre a empresa e os funcionários. Não são empresa e não são funcionários. Na responsabilidade são considerados empresa porque têm que agir em nome dela. Na autoridade são funcionários porque, mesmo sendo representantes da empresa perante as pessoas, seus direitos não são muito maiores do que os daqueles.
Dou um exemplo:
Próximo à data base da categoria, o sindicato faz uma pedida de aumento de salários de 15% enquanto que a empresa se propõe a pagar apenas 7%. O que o chefe, como representante da empresa deve fazer? Tentar convencer seus subordinados que a proposta da empresa é a melhor ou, pelo menos, a possível. Mas o sandwich fiddler sabe que ganhará exatamente o que for acordado entre a empresa e o sindicato. Se convencer os funcionários a votarem na assembleia pelo aumento de 7%, estará reduzindo seu próprio possível aumento pela metade. Estará lutando contra seus próprios interesses.
Não é fácil ser chefe.
Poderia ser bem melhor se as empresas delegassem mais autoridade e passassem a considerar as chefias, suas representantes perante o pessoal como parte verdadeira do comando da empresa com direitos diferenciados e não dependentes de negociações sindicais para evoluir em seus ganhos.
Como os sandwich gerentes conseguem manter sua própria motivação em alto nível? Só à custa de muito autoconvencimento, ou seja, de forma artificial.
A baixa produtividade de nossas empresas tem entre suas muitas causas, a ambiguidade com que são tratadas estas pessoas que querem ser empresa, até acham que são empresa, mas na maior parte das vezes, nada mais são do que operários especializados e em aparente posição de destaque. Nada mais.