Às vezes o raciocínio pelo absurdo facilita o entendimento do que se quer demonstrar.
Imaginemos que, após varias derrotas, os torcedores de um clube de futebol profissional ficassem sabendo que ganhar títulos não é o objetivo primeiro do clube, e sim a satisfação das necessidades dos jogadores e dos funcionários da entidade. Com certeza haveria revolta por parte da torcida que não vendo vitórias pediria a mudança do time, do treinador ou da própria diretoria. Nenhum torcedor se conforma com a falta de vitórias. O time tem que ganhar.
Imaginemos que alguém fizesse uma aplicação financeira, e descobrisse que o agente financeiro havia colocado o retorno do investimento em segundo plano e destinasse parte dos rendimentos para sua própria satisfação pessoal, para satisfazer as carências dos operadores financeiros ou até mesmo para promover seu desenvolvimento pessoal ou profissional. Se isto ocorresse, além de retirar seu dinheiro desta aplicação o investidor provavelmente acionaria juridicamente o agente acusando-o de malversação de recursos, de estelionato ou de gestão fraudulenta.
Imaginemos qual seria a reação de uma pessoa que contribuindo para uma entidade como os Médicos sem Fronteiras descobrisse que o objetivo desta entidade não seria exatamente a assistência médica de populações carentes e desassistidas de países extremamente pobres submetidos ao flagelo de guerras e epidemias, e sim a satisfação das necessidades e o bem estar dos membros de suas equipes médicas? Provavelmente as contribuições seriam imediatamente suspensas motivadas pelo desvio de finalidade.
Cada entidade tem seu propósito, que é cobrado por aqueles que dela participam, com uma grande exceção: as empresas.
Por algum motivo, o lucro, propósito de qualquer empresa e razão de sua criação e existência, é, muitas vezes, relegado a segundo ou terceiro plano. Até mesmo gestores e executivos consideram mais importantes outras metas como s satisfação e o desenvolvimento das pessoas, o meio ambiente ou a satisfação de todos os anseios dos clientes. Canso de ver executivos dizer que não estão satisfeitos com as empresas onde trabalham porque elas “só querem lucro”. Mas estes mesmos executivos, quando perguntados sobre o motivo pelo qual criariam uma empresa própria, sempre respondem que é obter lucro.
Esta é uma questão a ser pensada a fundo. Onde está a origem deste paradoxo? Se a empresa foi criada para gerar lucro, se se desenvolve a partir do lucro, se a contratação de pessoas, o pagamento de seus salários, o recolhimento de impostos e até mesmo outros benefícios à sociedade dependem de sua lucratividade, como pensar que o lucro é alguma coisa nefanda? Não parece que a empresa é o clube no qual as vitórias não são bem vindas? Que os torcedores querem abandonar porque quer vencer todos os campeonatos?
Pensem nisto.